sábado, 26 de novembro de 2011



"Mas o que houve — o tropeço, o solavanco, o esbarrão, a tosse no meio da área lírica —, o que houve foi um pensamento impiedoso e exatamente assim: não faço parte disso.
Não uma dúvida, mas uma certeza. Absoluta.
Sem inveja nem mágoa, revolta ou vontade furiosa de que pudesse ser de outra forma. Secamente, definitivamente, eu não fazia parte daquilo. (…) Por razões que não sei explicar; e nem precisariam tentar ser explicadas porque eram e, pior, continuam sendo completamente indiscutíveis.
Eu não fazia parte, e pronto."



CaioFAbreu in Agostos por dentro - Pequenas Epifanias



sexta-feira, 25 de novembro de 2011




"...sou tantas em uma só que tenho um medo incrível de me perder dentro de mim"


Lígia Rosso in Imensidão - Nas Entrelinhas



"Só espero, não penso nada. Tento me concentrar numa daquelas sensações antigas como alegria ou fé ou esperança. Mas só fico aqui parado, sem sentir nada, sem pedir nada, sem querer nada."



CaioFAbreu in Lixo e Purpurina, Ovelhas Negras.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011




"Eu chegara ao nada, e o nada era vivo e úmido."



Clarice Lispector in A Paixão Segundo GH

quarta-feira, 23 de novembro de 2011




"Me dói não ter podido mostrar minha face. Me dói ter passado tanto tempo atento a ele — quando ele nunca ficou atento a mim. E eu passei tanta coisa dura."



CaioFAbreu in Carta a Jacqueline Cantore

terça-feira, 22 de novembro de 2011





Olhei para o quarto onde eu me aprisionara, e buscava uma saída, desesperadamente procurava escapar, e dentro de mim eu já recuara tanto que minha alma se encostara até a parede - sem sequer poder me impedir, sem querer mais me impedir, fascinada pela certeza do ímã que me atraía, eu recuava dentro de mim até a parede onde eu me incrustava no desenho da mulher. Eu recuara até a medula de meus ossos, meu último reduto. Onde, na parede, eu estava tão nua que não fazia sombra."


Clarice Lispector in A Paixão Segundo GH

segunda-feira, 21 de novembro de 2011




"Sejamos mais reais em nossas dores."


Fabrício Carpinejar

"[...] incompetente para a vida. Faltava-lhe o jeito de se ajeitar. Só vagamente tomava conhecimento da espécie de ausência que tinha de si mesma. Se fosse criatura que se exprime diria: o mundo é fora de mim, eu sou fora do mundo."



Clarice Lispector in A Hora da Estrela



"Agora só resta uma coisa seca. Dentro, fora"



CaioFAbreu in Luz e Sombra - Morangos Mofados

domingo, 20 de novembro de 2011



"Quem pode deter o avanço do tempo? Alguma coisa vai ser dita ou feita, o tempo prepara meus ouvidos e meu corpo para as palavras ainda em gestação. Levanto as duas mãos, veias estendidas sob a tessitura clara da pele, dedos desertos como se segurassem uma palavra intangível[...] Como dói o deserto de dedos desassombrados."



CaioFAbreu in Apenas uma maçã – Inventário do Irremediável

sábado, 19 de novembro de 2011



"E se estou adiando começar é também porque não tenho guia."



Clarice Lispector - A Paixão Segundo GH



"Estou tão assustada que só poderei aceitar que me perdi se imaginar que alguém me está dando a mão"



Clarice Lispector - A Paixão Segundo GH

domingo, 13 de novembro de 2011




- Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.
- Natural é encontrar. Natural é perder.
- Linhas paralelas se encontram no infinito.
- O infinito não acaba. O infinito é nunca.
- Ou sempre.
(Silêncio)



CaioFAbreu in O Dia que Júpiter encontrou Saturno - Morangos Mofados.



"Era sábado à noite, quase verão, pela cidade havia tantos shows e peças teatrais e bares repletos e festas e pré-estréias em sessões de meia-noite e gente se encontrando e motos correndo e tão difícil renunciar a tudo isso para permanecer no apartamento lendo, espiando pela janela a alegria alheia"


CaioFAbreu

sábado, 12 de novembro de 2011


"Faz de mim, em tua memória, aquilo que lhe for mais conveniente...Mas lembre sempre, por favor, que estar inteira como estive me custou tudo o que eu tinha."



Marla de Queiroz

"O que há de tão grave na dor, para que se tema tanto, sempre?
O que há de tão nobre no amor, para que se queira insistentemente?
E o que há em comum entre os dois para que, vezenquando, se complementem?"


Marla de Queiroz



"Ela só queria que essa dor tão familiar, lhe fosse estranha.[...]
E pedia esperançosa: Deus perdoa por eu ter amado desajeitadamente, quem não me amou de jeito algum."



Marla de Queiroz

sexta-feira, 11 de novembro de 2011




"Eu aqui tenho ido um pouco aos trancos [...] Um ceticismo, umas durezas que eu não tinha antes. Deixa pra lá."



CaioFAbreu in Carta a Charles Kiefer

"Meu pequeno coração foi gestado numa áspera charneca, gasto os invernos tentando descobrir infrutífera um caminho qualquer sobre a neve capaz de transformar todos os caminhos num único descaminho gelado e sem porto..."



CaioFAbreu in 3X4 Liége - Morangos Mofados

quinta-feira, 10 de novembro de 2011


"...se você soubesse como ando escuro, como ando perdido, como me distanciei de mim e das coisas em que acreditava."



CaioFAbreu in Carta à Hilda Hilst

"...estou remexendo coisas fundas, dolorosas, meio perdido, com uns problemas difíceis, materiais, de grana, de saúde, de solidão. E escolhendo não morrer, escolhendo continuar, de uma forma ainda meio cega, tortuosa, não-racional."


CaioFAbreu in Carta a Adelaide Amaral

quarta-feira, 9 de novembro de 2011


"Perdoem o silêncio, o sono, a rispidez, a solidão. Está ficando tarde e eu tenho medo de ter desaprendido o jeito. É muito difícil ficar adulto."



CaioFAbreu in Carta a Nair e Zaél Abreu

domingo, 6 de novembro de 2011



"...fui aterrissando aos poucos, e perdendo energia, e voltando aquele desgosto, aquela náusea, e contração no canto da boca. Mas tô resistindo, che. E tento me querer bem apenas por isso — por insistir e resistir. Nem sempre consigo."



CaioFAbreu in Carta a Nei Duclos 1970

sábado, 5 de novembro de 2011



"Eu tenho uma sensação meio de amargura, de fracasso. Você me entende?
Como se tivesse a obrigação de ter sido, ou tentado ser, outra pessoa."



CaioFAbreu in Pela Noite - Trinâgulo das Aguas


"Sou PhD em desilusão amorosa. Fui muito honesta nas relações, não sei jogar.
Odeio quando o amor se transforma em violência, competição, morbidez."


CaioFAbreu in Depoimento a Fátima Torri - Revista Marie Claire - Set 1995

sexta-feira, 4 de novembro de 2011


"Me puxa para fora deste túnel, me mostra o caminho para baixo da quaresmeira em flor que eu quero encontrar em seu tronco o lótus de mil pétalas do topo da minha cabeça tonta para sair de mim e respirar aliviado e por um instante não ser mais eu, que hoje não me suporto nem me perdôo de ser como sou sem solução".


CaioFAbreu in No Centro do Furacão - Pequenas Epifanias

quinta-feira, 3 de novembro de 2011


“...o ódio seria demais, eu troperçaria atrapalhada com meu próprio peso, a raiva é mais mansa e eu me sinto capaz de suportá-la, a raiva cabe em mim porque não permanece, as coisas só adentram em mim quando podem escapar em seguida”



CaioFAbreu in Fotografia - Inventário do ir-remediável



"Não olho para trás.
De que adianta olhar? De que adianta não olhar?"



CaioFAbreu in Inventário do In-Remediável



"De alguma forma, por trás das nuvens, em algum lugar do infinito, deve continuar existindo aquele mesmo sol. Imenso, amarelo, redondo, quente"



CaioFAbreu in Teatro Completo


"Sem sentir fui sendo penetrado por um reino de escuridão, teias, náuseas, dor, maldição e luz. Quis voltar mas era muito tarde"



CaioFAbreu in Ovelas Negras


"Preciso dizer neste momento, embora talvez não caiba aqui. Ainda que me tenha isolado assim drástico, ainda que elabore dentro de mim e da casa pacientes, irrefutáveis justificativas para ter cerrado as portas ao de fora, ao humano que afastei através dos vidros coloridos, este humano dói, palpita, ofega, tem ritmos suarentos fora de mim."



CaioFAbreu in O Marinheiro - Triângulo das Águas



"Desprezível é tudo aquilo que não colabora para o enriquecimento do humano, mas para a sua (ainda) maior degradação. Como se fosse possível. Pior que sempre é."



CaioFAbreu in Divagações na boca da uma - Pequenas Epifanias

quarta-feira, 2 de novembro de 2011




"Pelos descaminhos, meu rumo se perdia, eu tornava a buscar, recomeçava - e novamente errava, e novamente insistia ..."



CaioFAbreu in Diálogo - Inventário do ir-remediável



"Dói de todos os lados, os de fora, os de dentro, de baixo e de cima, nenhuma saída, e você meio cego, meio tonto, só sabe que tem que continuar, meio sem esperança, as ilusões despedaçadas, o coração taquicárdico, língua seca, e continuando. Mas sinto que o coração se depura (é tão antigo falar em coração...) um pouco mais, em cada porrada. Meu olho compreende cada vez mais. Pode ser útil..."


CaioFAbreiu in Carta à Suzana Saldanha


"Os dias atordoados, as noites longas, suores, frustração.
O tempo, remédio pra tudo, diziam, passando."



CaioFAbreu in Ovelhas Negras

terça-feira, 1 de novembro de 2011




"Endureci um pouco, desacreditei muito das coisas, sobretudo das pessoas e suas boas intenções. Dar um rolé em cima disso não vai ser nada fácil. E as marcas ficarão - tatuagens."


CaioFAbreu in Carta à Vera Antoun



"Tantos trancos. E o meu olho nem conseguindo ver mais nada bonito [...] Tô exausto de construir e demolir fantasias. Não quero me encantar com ninguém. Meu olho vai ficando duro, vai ficando frio"



CaioFAbreu in Carta à José Marcio Penido