quinta-feira, 28 de abril de 2011


Quanto tempo demora? - perguntou ele.
- Não sei. Um pouco.
Sohrab deu de ombros e voltou a sorrir, desta vez era um sorriso mais largo.
- Não tem importância. Posso esperar. É que nem maçã ácida.
- Maçã ácida?
- Um dia, quando eu era bem pequenininho mesmo, trepei em uma árvore e comi uma daquelas maçãs verdes, ácidas. Minha barriga inchou e ficou dura feito um tambor. Doeu à beça. A mãe disse que, se eu tivesse esperado as maçãs amadurecerem, não teria ficado doente. Agora, quando quero alguma coisa de verdade tento lembrar do que ela disse sobre as maçãs.


O Caçador de Pipas - Khaled Hosseini

Então, o que se salva senão o intangível, senão os gestos que construímos em silêncio, de olhos fechados? E de olhos fechados, sonhei que você voltava dessa guerra e entrava embaixo de minhas cobertas: era o lugar mais quente depois que nada disso importava mais. Eu te abraçava bem forte, sem nada perguntar, porque o modo como você aquecia os meus pés friorentos era mais bonito do que tudo, tudo.


Rita Apoena

Tua ausência é tão presente que é pessoa... e me abraça.


Marla de Queiroz

segunda-feira, 25 de abril de 2011


‎Vou até a minha praça, na beira do rio. Ver o pôr-do-sol e, por um segundo, sentir uma alegria enorme. Depois, uma espécie de medo sem pergunta e a tristeza crescendo fazendo nascer a vontade de morrer. Ou de viver ainda mais, com muito mais intensidade.


Caio Fernando Abreu

domingo, 24 de abril de 2011


Quando volto a pensar nele, nestas noites em que dei para me debruçar à janela procurando luzes móveis pelo céu, gosto de imaginá-lo voando com suas grandes asas douradas, solto no espaço, em direção a todos os lugares que é lugar nenhum... Essa é sua natureza mais sutil, avessa às prisões paradisíacas que idiotamente eu preparava com armadilhas de flores e frutas e fitas, quando ele vinha. Paraísos artificiais que apodreciam aos poucos, paraíso de eu mesmo - tão banal e sedento - a tolerar todas as suas extravagâncias, o que devia lhe soar ridículo, patético e mesquinho. Agora apenas deslizo, sem excessivas aflições de ser feliz.



Caio Fernando Abreu

Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te.


Cecília Meireles

Sonho-te mais do que te recordo.
Seleciono. Invento-te um nome, um rosto.
Reconstruo. Reconstruo-te.
Peça a peça.
Minuciosamente – real ou irreal,
-Assim te lembro.


Amélia Pais

sexta-feira, 22 de abril de 2011



Falaram então sobre as paixões, os enganos, as carências e todas essas coisas que acontecem no coração da gente e tudo, e nada. Dançaram de novo. (…) Ela deixou que a mão dele descesse até abaixo da cintura dela. E numa batida mais forte da percussão, num rodopio, girando juntos, ela pediu:
- Deixa eu cuidar de você.
Ele disse:
- Deixo.


Caio Fernando Abreu

É tudo muito silencioso e cheio de palavras que explicam por dentro.



Marla de Queiroz

Do nada em mim o amor fez o infinito...



Vinícius de Moraes

quinta-feira, 21 de abril de 2011


Há momentos em que tudo o que a gente precisa é dar colo para o próprio coração.


Ana Jácomo


Estenderam as mãos um para o outro. No gesto exato de quem vai colher um fruto completamente maduro.


Caio Fernando Abreu

Não sabia que ia perdê-lo, não sabia sequer que iria encontrá-lo.



Caio Fernando Abreu

terça-feira, 19 de abril de 2011


E amava aquele homem como se ela mesma fosse uma erva frágil e o vento a dobrasse, a fustigasse.


Clarice Lispector

Sentia o mundo palpitar docemente em seu peito, doía-lhe o corpo como se nele suportasse a feminilidade de todas as mulheres.



Clarice Lispector

segunda-feira, 18 de abril de 2011


Ama-me.
É tempo ainda.


Hilda Hilst

Tenho trabalhado tanto, mas penso sempre em você (...). Se não dormisse cedo, nem estivesse quase sempre cansado, acho que esses pensamentos quase doeriam e fariam 'clack' de madrugada e eu me veria catando cacos de vidro entre os lençóis.


Caio Fernando Abreu

quarta-feira, 13 de abril de 2011


... uma sensação muito clara de que a vida escorre talvez rápida demais e, a cada momento, tudo se perde.



Caio Fernando Abreu

E tenho medo de altura, mas não evito meus abismos: são eles que me dão a dimensão do que sou.



Marla Queiroz

terça-feira, 12 de abril de 2011


Além dos meus espinhos eu tenho também muitas flores...



Tati Bernardi

Não me agüentava, mas ia. Sempre fui quando não me agüentava; a verdade é que sempre sou quando não me suporto.



Fabrício Carpinejar

O amor é procurar cabelos para completar as mãos, é procurar o que não se viveu para contar. É esperar o sol aquecer o lado ileso da cama. É não apagar direito a ausência, a letra, o cheiro. É insistir com respostas sem as perguntas. Adiar o amor ainda é cumpri-lo. Fingir que não se sente é exercê-lo. O amor devora os sobreviventes. Não lembra do pente, da navalha, da tesoura de unhas, do jornal, do abajur. O amor não lembra do que precisa. Amor é não precisar de nada. É precisar do que acontece depois do nada, ainda que não aconteça. O amor confunde para se chegar ao mistério. Embaralha para não se ouvir. Perde-se no próprio amor a capacidade de amar. Amor é comer a fruta do chão. O chão da fruta. O amor queima os papéis, os compromissos, os telefones onde havia nomes. O amor não se demora em versos, se demora no assobio do que poderia ser um verso. O amor é uma amizade que não foi compreendida, uma lealdade que foi quebrada. O amor é um desencontro por dentro.


Fabrício Carpinejar

domingo, 10 de abril de 2011


Queria que você, sem uma palavra, apenas viesse.



Clarice Lispector

À extremidade de mim estou eu. Eu implorante, eu a que necessita, a que pede, a que chora, a que se lamenta. Mas a que canta. A que diz palavras. Palavras ao vento? que importa, os ventos as trazem de novo e eu as possuo.


Clarice Lispector

O silêncio era espesso como uma porta de ferro...



Caio Fernando Abreu

Veio uma ardência nos olhos. Uma sugestão de lágrima dançou úmida no pensamento. (...)

Repetiu em pensamento: nunca nunca nunca mais.



Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 7 de abril de 2011


Há um grande silêncio que está sempre à escuta.
E por todo o sempre, enquanto a gente fala, fala, fala
o silêncio escuta...
e cala.


Mario Quintana

terça-feira, 5 de abril de 2011


Lutei toda a minha vida contra a tendência ao devaneio, sempre sem jamais deixar que ele me levasse até as últimas águas. Mas o esforço de nadar contra a doce corrente tira parte de minha força vital. E, se lutando contra o devaneio, ganho no domínio da ação, perco interiormente uma coisa muito suave de se ser e que nada substitui. Mas um dia hei de ir, sem me importar para onde o ir me levará.


Clarice Lispector



"Escolher a própria máscara é o primeiro gesto voluntário humano. E solitário."


Clarice Lispector



"A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia."



Clarice Lispector



"Tudo me atinge, vejo demais, ouço demais, tudo exige demais de mim."



Clarice Lispector

domingo, 3 de abril de 2011


"Amar é a vontade de andar de mão dadas durante o dia...







e de pés dados durante a noite."



Fabrício Carpinejar



"O tempo existe, sim, e devora."



Caio Fernando Abreu



"O tempo me espanta. Penso, o tempo é tudo que existe. Todo o resto é ilusão."


CaioFAbreu in A Maria Lídia Magliani


"Minha relação com a senhora dona Vida, de muitos anos para cá, tem sido frontal, direta e solitária."



CaioFAbreu in Cartas


"O homem mais triste do mundo − ele, que era eu, foi andando de cabeça baixa, arrastando a mochila pela terra... Eu estava a ponto de sentar numa daquelas calçadas tortas, no meio dos cachorros magros das ruas, enterrar a cabeça nas mãos e chorar e chorar pelo tempo perdido, pela falta de sentido, pela minha derrota. Então ouvi uma voz de mulher. Não muito longe de onde eu estava, provavelmente daquele mesmo lugar para onde ia indo, acompanhada apenas por um piano, a mulher cantava uma velha canção de Vinícius, e por falar em saudade, onde anda você, uma coisa mais ou menos assim, eu não sabia a letra direito, uma canção de ausência, saudade e perda, isso eu sabia..."



CaioFAbreu in Onde andará Dulce Veiga

sábado, 2 de abril de 2011



"Espiou sem ver a monotonia quieta do domingo, depois voltou-se para dentro, ficou ouvindo o silêncio."


Caio Fernando Abreu in Limite Branco



"No vácuo de mim eu me despenco"



CaioFAbreu in Inventário do Ir-remediável



"...não dizer nada, fechar os olhos, ouvir o barulho do mar fingindo dormir, que tudo está bem, os hematomas no plexo solar, o coração rasgado, tudo bem."



CaioFAbreu in Pedras de Calcutá