sexta-feira, 30 de setembro de 2011
"Te vejo perdendo-se todos os dias entre essas coisas vivas onde não estou. Tenho medo de, dia após dia, cada vez mais não estar no que você vê. E tanto tempo terá passado, depois, que tudo se tornará cotidiano e a minha ausência não terá nenhuma importância. Serei apenas memória, alívio..."
CaioFAbreu in A outra voz - Os dragões não conhecem o paraíso
"Durante algum tempo fiz coisas antigas como chorar e sentir saudade da maneira mais humana possível: fiz coisas antigas e humanas como se elas me solucionassem. Não solucionaram. Então fui penetrando de leve numa região esverdeada em direção a qualquer coisa como uma lembrança depois da qual não haveria depois."
CaioFAbreu in Iniciação - O Ovo Apunhalado
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
"Mas só muito mais tarde, como um estranho flash-back premonitório, no meio duma noite de possessões incompreensíveis, procurando sem achar uma peça de Charlie Parker pela casa repleta de feitiços ineficientes, recomporia passo a passo aquela véspera de São João em que tinha sido permitido tê-lo inteiramente entre um blues amargo e um poema de vanguarda. Ou um doce blues iluminado e um soneto antigo.
De qualquer forma, poderia tê-lo amado muito. E amar muito, quando é permitido, deveria modificar uma vida - reconheceu, compenetrado. "
CaioFAbreu in Saudades de Audrey Hepburn - Os dragões não conhecem o paraíso
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
"Ilustro mistérios enquanto me desnudo pra você
tirando cada peça que cobre o meu corpo.
Você nem imagina quanta sinceridade foi adulterada
no exato momento em que eu desviei o meu olhar do teu:
escondi em um segundo, uma vida de intenções.
Fui reeducada para farsas desde que me abandonaram
no meio de um amor tão espontâneo.
Agora não tenho dedos famintos de reações nem lábios lascivos.
Agora tudo é toque leve e avisado, histórias bem-datadas e beijo breve.
E no rosto eu cultivo com afinco essa expressão fria e o olhar vazio.
Tudo é disfarce e nenhuma verdade.
Eu aprendi a cultivar distâncias.
Finalmente eu troquei a minha real intensidade
pela postura calculadamente adequada de moça frágil.
Finalmente eu construí um personagem sem nenhuma poesia.
Agora, todo o meu afeto é discreto e as minhas taquicardias
semi-ausentes
(para que me ame e nada doa em você.)
E o que era blue(s), agora jaz(z)."
Marla de Queiroz
terça-feira, 27 de setembro de 2011
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
domingo, 25 de setembro de 2011
"Por trás da máscara, por baixo do outro rosto estava o rosto dele mesmo. Inteiro e sem ferimento algum, o rosto dele mesmo. E era lindo, o próprio rosto vivo por trás da máscara morta do outro rosto. Ele ficou olhando o próprio rosto. Ele estendeu as mãos e tocou o próprio rosto com todo carinho—e eram hirto, esse carinho — que era capaz."
CaioFAbreu in O rosto atrás do rosto - Pequenas Epifanias
...
sábado, 24 de setembro de 2011
"Me deixava levar, guiado apenas pelo jardim que entrevia pelas frestas dos tijolos, nos muros-palavras erguidos entre nós, com descuido e precisão. Viriam depois, mais muros que os de palavras, muros de silêncio tão espesso que nem mesmo os demorados exercícios de piano, as notas repetidas e os dedos distendidos, conseguiriam derrubar."
CaioFAbreu in Infinitamente Pessoal -
O Estado de S. Paulo, 1/7/86
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
"Sossega, dizia insone, abusando de lexotans, duchas mornas, shiatsus. Esquece, renuncia, baby: esses quindins já não são para o teu bico, meu pimpolho... Meio fingindo que não, pela primeira vez desde agosto olhou-se disfarçado no espelho do hall do hotel. As marcas tinham desaparecido."
CaioFAbreu in Depois de Agosto - Ovelhas Negras
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
terça-feira, 20 de setembro de 2011
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
sábado, 17 de setembro de 2011
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
"Cazuzinha está com no máximo 50 quilos. Lindo, vital, sereno. Mas você olha a cara dele e vê a cara da morte. O que pira a gente é que, você sabe, a morte está viva. Foi lindo. Ritual de vida e morte, naquele menino definhando em cima de um palco. Não é mórbido, não, Dá vontade de viver e rouba o medo."
CaioFAbreu in Carta A Luciano Alabarse
terça-feira, 13 de setembro de 2011
Maria Bethânia - Fera Ferida
...
"Bethânia, deusa guerreira, de espada em punho e voz rouca, inconfundível, procurando sempre versos que falem às emoções dos apaixonados. Gosta-se dela como se cai em estado de paixão: além de qualquer razão.
E bela. Bela de um jeito que não é comum ser bela, cantora como não é comum ser cantora – nesse desregramento de padrões estéticos, Bethânia funde a aspereza de onde começa o Nordeste com o requinte dos blues de uma Billie Holiday. Cantora diurna das terras crestadas pelo sol, mas também noturna, dos lençóis de cetim úmidos de suor e amor, transita numa carreira de impecável coerência com sua própria criatura: dividida em mel e espada. Padroeira dos apaixonados, também divididos entre o mel e a espada cortante da vingança. Dessa extensa legião, Maria Bethânia é a voz mais fiel."
Bethânia por CaioFAbreu
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
domingo, 11 de setembro de 2011
"... deixa que as coisas se renovem, e que as perdas tenham mais de um sentido, que os vazios te ofereçam mais espaço, pra que a vida te compense com o impossível. E permita que a alegria se aproxime, e que traga mais calor para os teus dias, quando tudo nos parece um desolo, é possível ainda assim, ser poesia."
Marla de Queiroz
"Chegue bem perto de mim. Me olhe, me toque, me diga qualquer coisa. Ou não diga nada, mas chegue mais perto. Não seja idiota, não deixe isso se perder, virar poeira, virar nada. Daqui há pouco você vai crescer e achar tudo isso ridículo. Antes que tudo se perca, enquanto ainda posso dizer sim, por favor, chegue mais perto“
CaioFAbreu in Ovelhas Negras.
"Quando a gente gosta, a gente cuida. Cuida mais do que devia. Gostar é se prevenir do desgosto. A gente nunca sabe o que é suficiente, a gente vai se doando, se gastando, sem pedir troco. A gente gasta mais do que tem e corre atrás para imaginar o que não viveu para não fazer falta à memória mais adiante."
Fabricio Carpinejar
sábado, 10 de setembro de 2011
"Há outros dias que não têm chegado ainda,
que estão fazendo-se
como o pão ou as cadeiras ou o produto
... das farmácias ou das oficinas
- há fábricas de dias que virão -
existem artesãos da alma
que levantam e pesam e preparam
certos dias amargos ou preciosos
que de repente chegam à porta
para premiar-nos
com uma laranja
ou assassinar-nos de imediato."
Pablo Neruda
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
"... eu tinha — e tenho — um monte de coisas pra te dizer, aquelas coisas que a gente cala quando está perto porque acha que as vibrações do corpo bastam, ou por medo, não sei. Mas as coisas todas, externointerno, eram muito difíceis e escuras,[...] Eu não queria, eu não quero dar trevas, dor, medo, solidão — eu quero dar e ser luz, calor, amparo"
CaioFAbreu in Carta A Vera Antoun
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
"Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho."
Adélia Prado
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
"Ele me amava, mas não tinha dote,
só os cabelos pretíssimos e uma beleza
de príncipe de histórias encantadas.
Não tem importância, falou meu pai,
se é só por isto, espere.
Foi-se com uma bandeira
e ajuntou ouro para me comprar três vezes.
Na volta me achou casada com D.Cristovão.
Estimo que sejam felizes, disse.
O melhor do amor é sua memória, disse meu pai.
Demoraste tanto, que...disse D.Cristovão.
Só eu não disse nada,
nem antes, nem depois."
Adélia Prado
terça-feira, 6 de setembro de 2011
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
"Pensei em colocar a cabeça dele no meu colo, tomar suas mãos, cantar, fazer carinhos. Mas só consegui ficar muito próxima. De alguma forma eu queria dizer que tudo aquilo importava pouco. Se soubéssemos controlar a nós mesmos, ao nosso terror, e poupar o gasto exagerado de tudo que tínhamos armazenado, nada aconteceria."
CaioFAbreu in Triângulo das Águas
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