segunda-feira, 2 de julho de 2012




“Ele chorou um pouco. Era um belo homem, com barba por fazer e abatidíssimo. Via-se que havia fracassado. Como todos nós. Ele me perguntou se podia ler para mim um poema. Eu disse que queria ouvir. Ele abriu uma sacola, tirou de dentro um caderno grosso, pôs-se a rir, ao abrir as folhas. Então leu o poema. Era simplesmente uma beleza. Misturava palavrões com as maiores delicadezas. Oh Cláudio – tinha eu vontade de gritar – nós todos somos fracassados, nós todos vamos morrer um dia! Quem? Mas quem pode dizer com sinceridade que se realizou na vida? O sucesso é uma mentira”.



Clarice Lispector in A via crucis do corpo


 "Cada leitor tem com Clarice Lispector seu próprio encontro, individual, secreto, íntimo.[...]
Em toda a sua obra, há um encorajamento em direção às pequenas e grandes verdades, ao ato de vasculhar o material menos brilhante de que somos feitos.[...]
Depois de Clarice Lispector, passamos a exigir mais da literatura e mais de nós mesmos. A exemplo de Macabéa, sentimos na pele o destino de instáveis criaturas vivendo às custas de um narrador que, não sabendo o que fazer, atropela-nos e foge. Na calçada, porém, junto ao sangue ainda quente, uma vela é acesa, uma linha continua a ser escrita. São os atos gratuitos, esses que nos salvam a humanidade."


Adriana Lunardi - O eterno direito ao grito

3 comentários:

  1. Ana querida... Sem palavras para descrever esse post!.. Como a Adriana disse: cada leitor seu encontro individual com Clarice!.
    Ela me decodifica!..
    Bjs querida <3

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  2. Tânia, sua linda!!!
    Gracia por me presentear com tua visita aqui no meu cantinho♥
    Ahhhh Clarice, ahhh os poetas...
    Vivem tirando minha máscara, enfiando os dedos nas minhas feridas, me fazendo lembrar o que eu minto que esqueci, me invadem sem pedir licença...
    Docemente me rendo à eles...
    bjosss

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  3. O trecho da Clarice é cirúrgico...

    Infinito!

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