quarta-feira, 21 de novembro de 2012

 
 
 
 



E só me veja
No não merecimento das consquistas.
De pé. Nas plataformas, nas escadas
Ou através de umas janelas baças:
Uma mulher no trem: perfil desabitado de carícias.
E só me veja no não merecimento e interdita:
Papéis, valises, tomos, sobretudos
 
Eu-alguém travestida de luto. (E um olhar
de púrpura e desgosto, vendo através de mim
navios e dorsos).
 
Dorsos de luz de águas mais profundas. Peixes.
Mas sobre mim, intensas, ilhargas juvenis
Machucadas de gozo.
 
E que jamais perceba o rocio da chama:
Este molhado fulgor sobre o meu rosto.



Hilda Hilst in Cantares do sem nome e de partidas

 

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